Trama Fantasma são sombras de casais casados
- JORGE MARIN
- 12 de out. de 2019
- 2 min de leitura
Trama Fantasma é um filme delicado e bruto ao mesmo tempo, pois trata da execução da arte, da trama artesã até o resultado final, que, no caso do filme são vestidos de sonho que vão além da materialidade, trazendo literalmente embutidas mensagens secretas e augúrios.
Para Daniel Day-Lewis, que novamente anuncia ser este seu último trabalho, é uma performance inesquecível. Seu personagem Reynolds Woodcock é tecido de forma assimétrica entre um perfeccionista absurdamente cordial e delicado, e uma personalidade explosiva, egocêntrica e autoritária.
Entre um romance e outro, onde a escolha parece se centrar menos na paixão e mais na estética da mulher que o acompanha como modelo, o estilista é assessorado por sua irmã Cyril (Lesley Manville, ótima) que meio que o protege de quaisquer distrações externas, conserta seus equívocos, dispensa suas acompanhantes eventuais e o mantém absolutamente protegido em seu mundo previsível.
Numa de suas idas ao campo, Reynolds permite que Alma (Vicky Krieps) entre em sua vida. Alma, cujo nome talvez tenha sido escolhido de propósito, é uma garçonete que anima aquele ser tão controlador e tão controlado, transforma-se rapidamente em sua musa, modelo e, de uma forma surpreendente, no grande amor de sua vida.
Quando questionado por quê nunca se casou, Reynolds responde a Alma: “eu faço vestidos”, e se reconhece como um solteiro incurável. Quando vai morar na casa onde também funciona o estúdio de costura, a moça logo percebe a relação simbiótica entre os irmãos, e o romance parece fadado ao fracasso que sempre caracterizou as relações de Reynolds.
Ao ser hostilizada por ele, em uma situação carinhosa engendrada por ela, Alma sabe que, ao se manter submissa, deverá deixar a casa. Para mudar a situação, tenta uma solução que revela uma face sombria que, mais tarde descobriremos, é de ambos. Ou uma metáfora comum às relações conjugais?
O diretor Paul Anderson Thomas, que também faz a cinematografia, parece querer prescrutar a intimidade dos personagens através de close-ups que mostram sempre uma paz, que não existe.

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