O Irlandês: pai de família e assassino
- JORGE MARIN
- 22 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de fev. de 2023
“Nenhum filme bom é longo demais”, dizia o maior crítico de cinema de todos os tempos, Roger Ebert. E isso pode ser comprovado em O Irlandês, a mais recente obra-prima de Martin Scorsese, que, em suas três horas e meia de exibição, encanta, surpreende e proporciona aquele tipo de experiência que só as grandes obras de arte entregam.
Baseado no livro I Heard You Paint Houses, de Charles Brandt, o roteiro conta a vida do “irlandês” Frank Sheeran (Robert De Niro), conhecido por participar da relação promíscua entre os sindicatos americanos das décadas de 1960 e 1970 com o crime organizado. Na obra literária, Sheeran alega ter matado Jimmy Hoffa (Al Pacino), considerado o maior líder sindical dos EUA.
Com a liberdade concedida pela Netflix, um dos produtores do filme, Scorsese tece uma colagem de memórias de Sheeran com direito a cenas lentas que servem de fio condutor para a narrativa: uma longa viagem de carro com seu compadre Russell Bufalino (Joe Pesci) e suas esposas, entre Filadélfia e Detroit, para o casamento de uma sobrinha deste.
O advogado Bufalino é uma espécie de mentor de Sheeran, e foi o responsável por apresentá-lo aos principais chefões da máfia da cidade, Felix DiTullio (Bobby Cannavale) e o “Gentle Don”, Angelo Bruno (Harvey Keitel). Cada um desses personagens é apresentado com uma legenda informando como será sua morte.
A narrativa é um passeio que tem início na década de 1940, e apresenta a maior parte dos episódios nas décadas de 50, 60 e 70. Embora o elemento-chave do livro seja a morte do icônico presidente do sindicato International Brotherhood of Teamsters, o filme foca no relacionamento entre Sheeran, Hoffa (que desapareceu e nunca foi encontrado) e Bufalino.
No final do filme, a história retorna ao corredor da casa de repouso onde o outrora poderoso “pintor de paredes” (código usado pelos mafiosos para definir os matadores profissionais) acaba de rezar com um jovem padre. Sheeran pede ao religioso que, ao sair, deixe a porta entreaberta, talvez na esperança de receber um perdão de suas filhas.

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