Dois Papas: provocações mútuas
- JORGE MARIN
- 7 de dez. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
Dois Papas é um filme baseado numa peça de Anthony McCarten, que fez o roteiro, e passa grande parte dos seus 125 minutos em diálogos entre dois papas, fenômeno que não acontecia desde 1414.
Anthony Hopkins e Jonathan Pryce representam Bento XVI e Francisco I, um pouco depois da eleição do primeiro e quando o então cardeal Jorge Bergoglio foi a Roma para solicitar a sua exoneração sem saber que sua presença já havia sido convocada pelo papa.
O encontro entres dois homens tão diferentes é um instante de provocações mútuas, onde Bento questiona abertamente o pensamento progressista de Bergoglio e reclama das críticas que ele faz ao seu papado. Para o alemão a fé cristã depende de uma estabilidade que o argentino enxerga como leniência com crimes históricos.
Embora faça incursões sobre a eleição de Ratzinger como substituto de João Paulo II, e também sobre a vida pregressa e mundana de Bergoglio (com a belíssima cinematografia do uruguaio Cesar Charlone), estas são rasas e servem apenas para contextualizar o diálogo entre os dois santos padres.
“Não concordo com nada que você diz” — afirma um Bento XVI autoritário e acusador a um Bergoglio respeitoso porém firme. Percebe-se na direção de Fernando Meirelles uma tendência a retratar o cardeal argentino como uma figura redentora, capaz de encarar a sua falibilidade com humildade e cuja ascensão ao trono papal pode inaugurar uma era de grandes mudanças.
No entanto, isso que poderia aparecer como uma manipulação do roteiro é totalmente suplantado pela atuação magnífica dos dois protagonistas. Pryce é amigável e divertido, como a imagem que nos passa o papa Francisco I real. Mas essa performance é um presente cedido pela atuação econômica de Hopkins.
Por isso, é totalmente crível a mudança de perspectiva dos planos de Bento, quase retratado como vilão, como um teórico brilhante e preso aos seus fantasmas do passado. Quando os papas reais aparecem na tela, Pryce se parece muito com Francisco, mas Ratzinger parece uma caricatura de Hopkins.

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