Aguirre: loucura e poder
- JORGE MARIN
- 17 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Aguirre, a Cólera dos Deuses, de Werner Herzog, permanece, após quase 50 anos, como um dos filmes mais assustadores já realizados. Mas o terror ocorre da própria condição da trama e não de algum elemento exterior.
No dia de Natal do ano de 1560, uma expedição espanhola comandada por Gonzalo Pizarro (Alejandro Repullés), descendo as montanhas íngremes dos Andes Peruanos como pequenas formigas entre nuvens, chega à floresta tropical em busca da lendária cidade de Eldorado.
Vestidos como numa parada militar, soldados carregam pesados canhões pelas trilhas barrentas, e nativos escravizados carregam liteiras com nobres senhoras, enquanto uma música compõe a cena com sons que transitam entre o sacro e a rusticidade dos índios. É a banda Popol Vuh (nome do livro sagrado dos maias) liderada por Florian Fricke.
Se a música é sinistra, a presença de Klaus Kinski no papel de Don Lope de Aguirre dá o tom angustiante do desenrolar das ações. Quando a expedição se divide em dois grupos, Aguirre se rebela de forma traiçoeira e covarde contra a liderança de Dom Pedro de Ursua (Ruy Guerra), deixando este nobre ferido e indicando o inexpressivo nobre Don Fernando de Guzman (Peter Berling) para comandar a expedição.
Num encontro com um casal de índios, que não conseguem ouvir a palavra de Deus numa bíblia, se expressa a arrogância dos conquistadores espanhóis.
De forma oposta aos filmes de aventuras na selva, onde já se sabe que alguém irá sobreviver no final, este filme apresenta poucas alternativas ao ambiente hostil da floresta equatorial, ao rio caudaloso e às flechas dos índios.
Não há cenas espetaculares, nem muitos diálogos. A fé no pensamento delirante de Aguirre, que fala em ser imperador de um reino cheio de riquezas, ou o medo deste delírio, faz com que todos o sigam.
No fim, o que se vê é um claudicante Aguirre e o que restou de sua expedição flutuando à deriva no rio Amazonas em uma balsa. O discurso do alucinado comandante vai se tornando cada vez mais ambicioso sobre o futuro, enquanto pequenos macacos teimam em ocupar a balsa.

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