Viver a vida: uma experiência cinemática
- JORGE MARIN
- 29 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022
O lema de Filmes Fodásticos, tirado de uma frase de Roger Ebert, afirma que os filmes são janelas nas caixas de espaço/tempo em que vivemos. Portanto, ao olhar através dessas janelas, estaremos por alguns momentos fora da caixa.
Viver a vida de Jean-Luc Godard é um exemplo clássico de filme fora da caixa. Realizado em 1962, no auge da nouvelle vague do cinema francês, a obra pode ser considerada mais uma experiência cinemática do que propriamente cinematográfica. A grande emoção vem da câmera nervosa de Raoul Cultard que joga o espectador dentro da cena.
Baseado num roteiro banal, que seria considerado extremamente preconceituoso nos dias atuais, o filme conta a história de Nana, representada pela então esposa de Godard, a modelo Anna Karina. É o rosto dela que abre o filme como se posasse para retratos, de perfil e de frente, ao som da música de Michel Legrand que, de acordo com o desejo do diretor, simplesmente para, e reaparece na cena seguinte.
São doze capítulos, com títulos longos que revelam antecipadamente o que vai acontecer. Pelo que se sabe, todos foram filmados em tomadas únicas, o que significa que as tomadas são transformadas diretamente em planos, sem qualquer tipo de edição.
Nana é uma jovem parisiense que acaba de se separar de Paul com quem deixou o filho do casal, de quem ela pede fotos, numa cena filmada no balcão de um café por trás dos personagens. Ou seja, vemos apenas suas nucas e um reflexo embaçado no espelho.
Embora nada se saiba sobre suas motivações, a narrativa se foca em Nana. Ela joga fliperama e trabalha numa loja de discos, mas tem problemas financeiros, que a obrigam a tentar roubar a chave de seu apartamento, retida pela porteira possivelmente por falta de pagamento.
Passando por uma rua onde prostitutas trabalham, Nana aceita o convite de um homem e começa a se prostituir. A princípio, ela se recusa a beijar o cliente, mas depois acompanhamos seu progresso, narrado como se fosse um documentário sobre a prostituição em Paris.
Quando se encanta por um jovem estudante, a mulher resolve deixar “a vida” (nome que se dá à prostituição na França), mas o seu gigolô certamente não concorda com isso, e toma medidas drásticas para recuperar sua marchandise.

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